sábado, 30 de maio de 2009

Mira, mar! Causo di que talento eu tenho...só me falta-me um bom trampo!

Numa postagem mais antiga, descrevi as angústias de uma amiga que precisava de um emprego... Pois é... me vejo agora, não na mesma situação, mas com os mesmos sentimentos conflitantes... num momento de reflexão, decidi (na época em que escrevi esse texto)expor para futuros chefes, psicólogos e os caras do RH, minha atual posição...
Porque é preciso se valorizar... e aqui vão minhas qualificações... minha carta de apresentação!
Caso seja de interesse geral, permito a cópia, se a necessidade for desesperadora, caros colegas trabalhadores latino-americanos sem dinheiro no bolso (God Save Bel-Chior!)


Porque devo ser contratado

Bom dia... na verdade péssimo dia. Estou escrevendo para dizer que sou ótimo nas coisas em que eu quero ser ótimo, ou seja...pouca coisa. Pouca eu sei, porém extraordinárias. Não sonho muito alto, só quero ser escritor. Acabei, por algum erro de percurso, desses que sempre acontecem quando queremos ir atrás de algo que realmente nos instiga (nossos sonhos!) e por medo, ou qualquer outra grande conspiração do Universo, somos jogados para um outro lado do espaço, do saco, ou de uma mesa lotada de serviços atrasados.
Estou escrevendo porque não agüento mais viver de esperas... esperar o horário de almoço, do cafezinho da tarde, da reunião com um chefe que sabe menos que você porém deixa transparecer e FAZ perceber que sabe dez vezes mais que você e você, OLHA SÓ!, não sabe é de nada! E me desespero porque hoje à tarde farei uma reunião com ele para dizer que não entendo nada e preciso de ajuda. O que não aconteceria se eu vivesse só de escrever, se eu vivesse da forma que eu quero, sendo meu chefe, delegando a mim mesmo minhas funções... COMA AGORA! VAI COCHILAR NESSE EXATO MOMENTO! VAI BEBER UMA CEVA NO BUTECO DA ESQUINA E FIQUE POR LÁ POR DUAS HORAS!!! AGORAAAA!!!! É... bem, na verdade se eu fizesse tudo isso eu seria vagabundo e não um chefe. Mas o que eles fazem no computador o dia todo que não vemos? A gente não vê o trabalho dos chefes! Sendo assim posso afirmar que talvez os vagabundos sejam eles! Ontem por exemplo tive que abrir a impressora a laser e sujei as mãos (sim, as lasers sujam do mesmo jeito), e ainda ouvi que o coitado do técnico-estagiário (estagiário... raça que fui um dia, porém me desenvolvi e subi no posto como as lagartas que viram borboletas, porém, acabei virando mariposa..cigarra, ou outros desses bichinhos que a gente bate quando se aproximam) está ocupado demais e que EU... veja bem EU deveria resolver aquilo! Mas olha só! Esses dias ele tem estado em dias de fuder o diabo! Anda soltando fogo pelas ventas, pelas ventanias e até pelo raio que o parta... disse outrora que mudou seu estilo. AGORA? Mas fala sério hein!
Estou completamente apático agora, na frente do meu computador e nem posso jogar paciência porque a minha já se esgotou e a disgrama desse troço não ta instalado aqui. Acho que estou entrando numa derrocada imensa... uma imensa dor que está sufocando porque sei que não posso continuar aqui! Eu serei mais um acomodado que com o tempo terei a barriga crescendo e crescendo e crescendo... até eu completar trinta ou quarenta anos de trabalho e me aposentar. E nem casar eu quero, ou seja, se, com a graça de Deus minha mãezinha estiver aqui, estarei morando com ela! E tirarei um doutorado de fracassado, falido, barrigudo e inútil total! Não! Eu não vou aceitar isso!
Sugiro à vocês que me contratem porque sei que esse é um trabalho que quero fazer porque eu nasci pra isso! E eu serei tão excelente... tão melhor! Eu realmente serei bom e vocês não se arrependerão! Agora, se todo meu suplício e minhas explanações sobre meus dias infernais atrás de um computador vendo e fazendo e refazendo e revendo listagens absurdas que ele só pede pra mostrar trabalho... enfim... se nada disso comover os corações de vocês...aí quem sabe um estágio? Olha eu posso ser bom em qualquer coisa... Sim, porque apesar de ser bom em poucas coisas... eu... eu... posso me esforçar! O salário... bom, posso ganhar o mesmo que ganho aqui... um pouco menos se isso significar também uma redução nos descontos de INSS porque os daqui são absurdos!
Olha eu serei bom! Eu tenho 24 anos e ainda não tirei carta. Mas posso ser entregador! Vou de bicicleta, mas me tirem daqui!!! Mas me dêem um espaço para escrever! Só quero isso! Preciso viver disso! Só disso! Não é um pensamento egoísta ou estupidamente vagal... só quero isso! Só isso!
Qualquer coisa...eu tenho bicicleta!
Para terminar, ele ainda disse que eu precisava de um organograma e que minha própria vida estava desorganizada! Como é que eu faço um organograma pra minha vida? Não me lembro de ter visto isso na faculdade! Nunca usamos esse exemplo. Sempre pensei que deveríamos viver a vida de acordo com nossas vontades e sonhos. Mas parece que as coisas não são bem assim. Se eu vivesse só de escrever, eu escreveria sobre sonhos, desejos e vontades... e a vida como uma coisa boa e não travada como a um trauma ou infelicidade que justamente os chefes tem. Com certeza eles devem ter alguma modificação genética que indica que, além de chefes, serão frustrados com a felicidade - alheia? não! a dos funcionários mesmo. Mas você, futuro chefe que estará lendo tudo isso, não será assim! Não será porque vai me deixar viver bem apenas escrevendo! E bebendo uma ceva dez em quando porque sabe que isso me trará inspiração e eu subirei de posto sendo o seu terceiro, segundo, ou, já que estamos pensando alto, quem sabe, seu número um na lista dos best-sellers.
Obrigado pela atenção dispensada,
Fico no aguardo de respostas sempre positivas. Tenha um ótimo dia (porque o meu está sendo do cão!) e não jogue isso fora. Um dia você vai precisar de alguém que ande de bicicleta. Mas sempre com um caderninho na mão!

Jeam Tiago da Silva Camilo
20/03/07
14:06

sexta-feira, 29 de maio de 2009

... MAIS uma vez, Marisa...

MAIS UMA VEZ
(Marisa Monte)

Mais uma vez
Eu vou te deixar
Mas eu volto logo pra te ver
Vou com saudades no meu coração
Mando notícias de algum lugar
Eu sei que muitas vezes te fiz esperar demais
Mas, mesmo na distância o meu pensamento voa longe
demais
Fico imaginando você sofrendo
Na solidão
Quando vou deitar penso em você
Em seu quarto dormindo
Ahhh!
Longe de você meu bem
Longe da alegria
Longe de você meu bem
Longe do nosso lar, mais uma vez


http://www.youtube.com/watch?v=yOimp_Swqd4
Estive com alguém que me fez sofrer,
Falando de seu novo romance...
O tempo todo em minha mente...
Parece, por ventura, que se esqueceu de nossa particular intimidade...
Mas, na verdade, talvez queira me tentar...
Eu estou sendo forte, e o serei para sempre...

Se você pensava me dominar, não imagina o quanto sou forte...
Eu quero você, mas nas condições da realidade...
Chega de sonhos,
Você me acordou
E me mostrou como sou um tolo por esperar...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A versão OFICIAL!

Bom pessoal, saiu junto com o texto o e-mail que mandei para a lista do fá-clube MINSANE... aqui vai o texto como deveria ter sido... e não foi, mas está sendo e será...

Sem pormenores... o tal...


MELANCHOLY BABY…

Acabo de perder minha mãe também com câncer... não aos cinco anos... mas aos 26.
A princesa iluminada e o príncipe atingido. Agora, numa atemporalidade... uma Verônica Eletrônica versus um melancholy baby... tentando encontrar alguma conexão...
Você tinha 30 e tantos mangos no bolso... eu, só o da passagem... consegue sentir?
(GOD?)
Sem comparações… as dores são reais, idênticas... quase palpáveis... eu tento entender... tento encontrar alguma conexão...
(I had a mother... it was nice...)
Tão desgraçadamente quanto antes (qual o tempo, pequena Rainha da Chuva?), não sei o que fazer... esperando o passar das horas... por um instante quero por as mãos na cabeça e gritar... mas ficaria ridículo... nessa cena de Almodóvar...
então me calo...
pensando nos quadros e nas dores de Frida.
(GOD!)
Eu mando cartas em papel reciclado... e escrevo um texto... ou uma canção... ouço seus discos mais antigos (triste verdade...)... tento tocar um violão velho... olho para toda direção... (alguma conexão?)
Tudo ao meu redor se torna forte porque absorvo (aprendendo a dizer adeus...)

Eu respiro, corro, chego... mas nunca alcanço (que os céus me ajudem!)

Olhei no espelho essa manhã e meu rosto parecia envelhecido (com qual idade envelhecemos REALMENTE?). O telefone não toca (cansado de esperar...), não chega e-mails e meu olhar... muito perdido (perdendo a conexão... perdido na tradução... na transcrição... amor em profusão...)

Eu não entendo... as coisas acontecem e eu não entendo.

(abra seu coração... abre los ojos pequena estrela que precisa dormir...)

A barba por fazer é um capricho da preguiça. O aluguél vence amanhã (empresta os trinta mangos, Nova York amada e ilusória?)

Lembro de tudo, detalhes, coisas e até o número do meu CPF. Entendo e absorvo... e tento encontrar ESSA conexão com o mundo... e com os ensinamentos deixados por vocês... mother and father...

Fá... Sol... Lá... Si... dó de mim? Não mais... procurando... procurando... seguindo os passos nunca estáticos de um raio de luz abençoado...

Se o texto soa amargo, tenham certeza: não é a escrita de um derrotado!

Dolorosas confissões, contrastantes com a nada esfumaçante loja de doces... entregando alguma, mesmo que dura, doçura... ternura...
E vivamos como deve ser... buscando encontrar a conexão que um dia encontraremos... numa estranha beleza... num belo estranho...
Segredos, segredos... derreta o chocolate... reparta o doce comigo... minha irmã e eu...
GOD...

MADONNA ME SALVA!!!


Não bastasse a paixão desde os primórdios de minha existência pela Deusa, Rainha, maior ícone feminino da cultura pop de TODOS os tempos (Se situa, Cleópatra!), não bastasse ter conhecido um dos grandes amores de minha vida em sua deliciosa e deslumbrante STICKY & SWEET TOUR, SÃO PAULO 20-12-09, ainda morro do coração ao ver meu singelo texto publicado no site do MINSANE (www.minsane.com.br), simplesmente o maior site oficial dedicado à ela da América-Latina Sideral...
Para quem quiser o link direto, corram porque não fica muito tempo por lá...

http://www.minsane.com.br/noticias/noticias.html

Agora, quem for preguiçoso mesmo, encosta no sofá, cadeira ou no parceiro ao lado, e veja aqui, acompanhado da belíssima fotomontagem... que orgulho...somente o primeiro!
GRANDE, garoto!



Melancholyc Baby




Saudações à todos os minsanos....
Bom pessoal, perdi minha mãe há quase dois meses com câncer... o que isso tem a ver com o grupo? Pois é... mas dessa dor, encontrei diversas formas para me distrair e, uma delas, é ouvir nossa Madonna, o que me acalma e me faz pensar em coisas boas... e voltei a escrever com a frequência de antes... a dor as vezes vem para nos mostrar que não devemos parar e nem seria justo para com os que partiram fisicamente, e para os que ficaram... Tendo em vista a perda da mãe de Madonna em circunstâncias parecidas... resolvi escrever um singelo texto, expondo minhas angústias através da obra da Diva... para quem tem um mínimo de conhecimento a respeito dela, identificará todas, apesar de que nem está difícil de perceber.....
Grande beijo e abraço à todos... minha mãe e meu pai que com certeza estão de mãos dadas lá em cima, sempre me incentivaram a ir atrás de meus sonhos, e me fizeram firmar na idéia de que eles nunca foram e nem serão sonhos idiotas ou utópicos...
Vamos viver bem galera... sem medo de amar ou não... sem medo de chorar... ou chorar de rir... ou dizer EU TE AMO simplesmente porque você quer dizer...
Não são lições de auto-ajuda... a vida é assim... a Própria já disse : Você não tem o luxo do tempo...
Se não o temos...então, aproveitemos...sempre nos amando, nos protegendo e ligando o botão do FODA-SE sempre que for necessário.....
Abaixo vai meu pequeno relato... SEJAM! ACONTEÇAM! FAÇAM VALER SUA ESTADA NA TERRA!
MELANCHOLY BABY…

Acabo de perder minha mãe também com câncer... não aos cinco anos... mas aos 26. A princesa iluminada e o príncipe atingido. Agora, numa atemporalidade... uma Verônica Eletrônica versus um melancholy baby... tentando encontrar alguma conexão...
Você tinha 30 e tantos mangos no bolso... eu, só o da passagem... consegue sentir? (GOD?)
Sem comparações… as dores são reais, idênticas... quase palpáveis... eu tento entender... tento encontrar alguma conexão... (I had a mother... it was nice...)
Tão desgraçadamente quanto antes (qual o tempo, pequena Rainha da Chuva?), não sei o que fazer... esperando o passar das horas... por um instante quero por as mãos na cabeça e gritar... mas ficaria ridículo... nessa cena de Almodóvar...
Então me calo... pensando nos quadros e nas dores de Frida. (GOD!)
Eu mando cartas em papel reciclado... e escrevo um texto... ou uma canção... ouço seus discos mais antigos (triste verdade...)... tento tocar um violão velho... olho para toda direção... (alguma conexão?)
Tudo ao meu redor se torna forte porque absorvo (aprendendo a dizer adeus...)
Eu respiro, corro, chego... mas nunca alcanço (que os céus me ajudem!) Olhei no espelho essa manhã e meu rosto parecia envelhecido (com qual idade envelhecemos REALMENTE?). O telefone não toca (cansado de esperar...), não chega e-mails e meu olhar... muito perdido (perdendo a conexão... perdido na tradução... na transcrição... amor em profusão...)
Eu não entendo... as coisas acontecem e eu não entendo.
(abra seu coração... abre los ojos pequena estrela que precisa dormir...)
A barba por fazer é um capricho da preguiça. O aluguel vence amanhã (empresta os trinta mangos, Nova York amada e ilusória?)
Lembro de tudo, detalhes, coisas e até o número do meu CPF. Entendo e absorvo... e tento encontrar ESSA conexão com o mundo... e com os ensinamentos deixados por vocês... mother and father...
Fá... Sol... Lá... Si... dó de mim? Não mais... procurando... procurando... seguindo os passos nunca estáticos de um raio de luz abençoado...
Se o texto soa amargo, tenham certeza: não é a escrita de um derrotado!
Dolorosas confissões, contrastantes com a nada esfumaçante loja de doces... entregando alguma, mesmo que dura, doçura... ternura...
E vivamos como deve ser... buscando encontrar a conexão que um dia encontraremos... numa estranha beleza... num belo estranho...
Segredos, segredos... derreta o chocolate... reparta o doce comigo... minha irmã e eu... GOD...

Créditos: MInsane
Jeam Camilo para o MInsane
Postado em 24.05.2009

O melhor foi ler no final... Créditos: Minsane JEAM CAMILO! Uhuuuu! Me segura agora! Quem quer?

domingo, 24 de maio de 2009

Circularizando....

Pessoal, desta vez, voltei belíssimo e pra ficar REALMENTE.... não decepcioná-los ei!

De presente, o conto de um homem que perde seu grande amor e fica piradinho, não distinguindo se está são ou não....e o leitor entra na paranóia dele... ler para crer como acaba esse impasse....


CIRCULAR



São quase cinco... ou quase isso. Ou talvez já tenha passado. Não sei. Não lembro. Aliás, não me lembrarei de nada até quando estiver bem acordado ou até que alguém venha me acordar e me contar do inferno de cada dia. Inferno de TODO dia. Todo o dia.
Contar o quanto fiz e bebi a noite passada (ou terá sido a outra?). Não lembro. Eu tento, eu juro que tento levantar! Olhei pra cômoda e a garrafa de vodka (urgh!) ainda estava lá, mas tava pela metade... não é possível dormir só com meia garrafa. Juro que fiz força, mas demorei algumas horas (na verdade, minutos intermináveis que a cabeça não registrava por burrice, ou bebidice mesmo), pra me levantar. Ave! Que ressaca! Que solidão! Estranho como farreamos felizes e acordamos... a sós. Na verdade, algumas farras com amigos ou amantes são mais solitários.
Mas levantei. Direita? Esquerda? Pra onde seguir? Puta, que sede! Vou beber essa água... opa... é a vodka. A água fica onde mesmo? Ai, caramba, a cabeça ainda dói!
Corredor. Minha nossa! ... que bagunça! Um maço de cigarros. Peraí! Mas eu não fumo! Mas isso é hoje. Talvez ontem eu tivesse fumado! Um sapato de mulher embaixo da cômoda que estava com o maço em cima. Por Deus! Eu nunca usei um sapato de mulher! Nem é meu, seu estúpido! ...deve ser daquela menina de ontem... ou terá sido a de anteontem? Não consigo lembrar... todas são iguais... os dias são tão iguais... as noites também. Ontem fez um ano que minha garota se foi. Garota durona, linda, do tipo 1,70, morena, corpuda, uns olhos!, uma boca!, uma... bom, isso só interessa a mim. Ou interessava. Ah ta! Quem sabe da bebedeira tenha sido isso? Comemoração de um ano de fossa! Mas tenho a leva impressão de que eu comemorei isso na semana passada... ou talvez eu tenha comemorado o fato de faltar uma semana pra completar um ano... Acho que comemoração era a palavra certa antes da bebedeira. Depois sempre vinha decepção, melancolia e uma dor de cotovelo desgraçada ao lembrar que ela tava bem e com meu ex-melhor amigo. Mas isso foi há sete meses... Será que estou enlouquecendo? Não consigo colocar as idéias em ordem! O tempo, as histórias, estão se entrelaçando de forma forte demais... tá dando um nó incrível nessa cabeça afundada em álcool.
Cheguei no banheiro. Tinha um batom lá. Terá sido da mesma menina do sapato? E desde quando eu saio com meninas que fumam? (Desde que ela começou a fumar, babaca!). Duas escovas de dente? (De repente, ela pode voltar!). Depois que eu mijei, dei descarga, mas o som saiu tão diferente! Sei lá... será que alguém entupiu essa droga? Fui pra sala. Cara! Tinha outros três ex-amigos meus lá! Tinha mais quatro meninas lá (qual delas devia ter sido), e uns quadros que eu não me lembrava de ter comprado... talvez eu mesmo tivesse pintado, mas essas habilidades eu reprimi há doze meses.
Trezentos e sessenta e tantos dias... ou terá sido a semana passada? O que aquelas pessoas estavam fazendo ali? Senhor! Será que isso é um sonho? Algo entre Almodóvar, Picasso e Cortazar. Mas preciso comer algo. Não tava com fome, mas ás vezes é bom. Aquela cozinha definitivamente não era minha. As facas nunca ficam do lado esquerdo da gaveta. Talvez eu tivesse mudado há quinze dias... eu sempre quis mudar! Ou a diarista botou no lugar (deve ter achado esquisito encontrar facas no banheiro). Abro a geladeira. Tava mais frio fora. Tinha um pedaço de bolo (aniversário? Meu? De um ano de partida? Ou de uma semana para um ano? Quem sabe o aniversário de um ano seja semana que vem? Ou talvez, ainda, o aniversário de um ano tenha sido há um ano? Como lembrar? Como esquecer...
Acabei sentando à mesa com um copo de café na mão. Tava muito frio, o que me fez pensar que o fiz há três milhões de anos. Espera aí... mas existia café há três milhões de anos? Gota em gota... a água pingava da torneira. O encanador não veio aqui mês passado? Talvez eu tenha quebrado de novo... um despertador começou a berrar. Tinha, como todos os dias, acordado antes dele. Eu me deito e ele é a única coisa que funciona. Durmo. Sonho pouco... acordo e fico olhando dolorosamente prá ele. Mais uma noite se passou e a cabeça fica o dia todo pesando. Quando eu não tô em casa, não lembro dele. Mas, ao voltar, de madrugada, vejo quanta falta ele fez... meu único companheiro. Os ponteiros se mexem e todos se vão... e tudo se vai... e o tempo permanece... me torturando. Lembrei que precisava trabalhar. Como é que essas pessoas foram parar aqui?
Rua. Padaria. Café de novo. Quente agora! Pedestres, ruas, o semáforo verde... amarelo... vermelho... verde...faixas... pessoas, cheiros, postes. Um ônibus (eu devia ir num desses), mais gente. Gozado... parece que eu os conheço, mas ninguém me olha... um outdoor imenso com um coração estampado... deve ser comercial de calcinhas ou perfume, ou sei lá o que porque eu só reparei no coração... empresa, segurança, elevador... agora com três consoantes: CHeFe! Isso, eu sabia que conseguiria! Cabeça na lua, agora sol, depois estrelas e idéias vagas depois de não conseguir dormir, nem sonhar. Bronca, almoço, sobremesa sobre a mesa... torta de alguma coisa... nada desceu, só parei no terceiro andar. Aproveitei que ninguém entrou. Foram quatorze andares só... e só comecei a chorar no terceiro andar. Cinco horas... esse horário é perseguidor e implacável. Saí. Quase trombei com a mocinha bonitinha que sempre me olha e eu nunca a enxergo direito. Hoje não foi diferente. Quase um carro me atropelou, ou eu quase me joguei... um senhor que eu encontro todos os dias me disse as primeiras palavras de nossa muda e recíproca amizade entre desconhecidos.: - Você está bem? Não respondo e ele entende. Na padaria da esquina tinha uma prateleira elegante. O rapazinho de lá me cumprimenta muito sorridente... talvez eu venha aqui com certa freqüência. Comprei uma garrafa de vodka. Tava sem grana mas... SURPRESA!, já tinha conta lá.
Prédio, porteiro, escada. Elevador, seis andares só... subindo. Chego. O som ligado. Tinha demorado na rua. Porta fechada... sem tranca. O porteiro tinha me falado alguma coisa... sei lá. Respondi: - Hum hum... Obrigado, boa noite pra você também e entrei no elevador, agora, em casa. Ela estava vazia (esqueci de novo o rádio ligado?). sem ex-melhores amigos... sem quatro garotas. O cigarro continuava lá e o batom também. O sapato, não. Tinha um monte de louças para lavar. Mas a diarista não veio ontem? Ou será amanhã que ela virá? Talvez o pessoal chegaria mais tarde. Tinha combinado na festa de três dias (ou terá sido quatro ou cinco?) dias atrás. Ou talvez eu tenha que ir buscá-los naquele bar... ou na outra boate. Com quantas ainda? Quantas mais? Quantas noites? Mais? Outro gole. Quantas iriam me fazer pagar? Já não foi tão caro só a partida? Partida de futebol! Amanhã á tarde! Peraí... parei com o futebol quando comecei a vodkal.
O engraçado é isso! Tudo muda mas é tão igual! Os lugares que vou... me parecem estranhos, mas é onde sempre fui. Se algo mudou foi em algum ponto de mim que não consegui entender. Ao menos eu lembrei que tinha que trabalhar. Há sete meses e três empregos eu sabia... ou não lembrava. Tô melhorando. Hoje lembrei que não fumava. O cigarro não podia ser meu. E talvez nem essa casa. Duas escovas de dente? Um batom e sapato? Será que sou um traveco? Acho que não porque o número não era o meu. Era menor como meu coração piegas.
Eu soltava pipas. Não tem nada a ver, mas me lembrei disso agora e gostava sabe... ninguém ligou.
Ninguém ligou... acho que já cortaram a linha ou eu tirei o fio.
Tudo é igual. Todos os dias... todas as horas... todas as noites e pessoas. Se ela deixou o batom e o cigarro... ela vai voltar. Hoje avancei mais um pouco. Lembrei que ela é quem fumava e usava batom. Amanhã quem sabe eu me lembre do que aquele povo tava fazendo aqui, na minha sala. Mas eu durmo fora de hora, sem hora, nem sei se o povo ficou aqui a noite passada. Não lembro, não consigo me lembrar de nada. Só aos poucos. Melhor assim. Posso fazer algo diferente. Diferente sem eu saber porque apaguei o que eu sabia com o último cigarro que fumei numa madrugada dessas aí... mas eu não fumava! Quem garante? Eu não me lembro... Mas estou progredindo. Quem sabe amanhã? Ou essa música é longa assim ou ta tocando no repeat desde que eu me lembro. Quando? Puxa! Já é amanhã! Preciso ir dormir porque nem consigo enxergar direito. Meia garrafa de vodka misturada com uma vida inteira sem paz para dormir nos últimos trezentos e sessenta e tantos dias... ou terá sido a semana passada? Mas eu não uso sapato de mulher, nem uso batom como um travesti, quando comi a torta de sei lá o que no quinto andar (ou no terceiro que eu vi a mocinha que me olhava?). A garrafa de vodka tinha 1,70m, parecia água de longe e que olhos! O Almodóvar teve uma semana de bebedeira com o Picasso e o Cortazar me despedirá essa manhã. Ou talvez já o tenha feito há trezentos e sessenta e tantos dias... ou será sido a semana passada? Não me lembro do meu ex-melhor amigo ou das facadas na xícara de café gelado, agora quente. A torneira quebrou quando eu fui na padaria comprar o porteiro pra escada da empresa que tem três cores no farol... amarelo... verde... ver... ver... melho! É a cor do batom! O telefone não pega porque eu cortei o vodkal... na partida do bolo que já tava lá desde a semana passada. Ou terá sido há trezentos e sessenta e tantos dias? Lembro que fumei o cigarro na madrugada que a pipa partiu. Desde que você partiu. E tudo, e todos, e todas as pessoas e todas as madrugadas têm sido iguais. E tudo é igual. E eu não lembro de nada. Desde agora. E cada dia eu tento. Hoje descobri que não sou um travesti (eu acho) e fumei um cigarro me afogando na bebedeira de cada noite... estou entorpecido... sou sozinho. Sou e estou. Qual é a diferença? O importante é que eu decidi lembrar e cada dia descubro alguma coisa.
Amanhã, que já é hoje, talvez eu lembre quem eram aqueles e porque estavam ali e o que aconteceu com a outra garrafa de vodka (fui bebendo pro serviço?). Mas o sono (talvez) está chegando. Cochilo. Acordo antes do relógio. De novo. Lembrei disso. De novo. Mas não consigo enxergar. Vou olhar pro tempo até ele berrar no meu ouvido e eu acordar. Ou tentar. O que já é um começo. Será que ela vai voltar?
Fixo meu olhar, pelo que eu me lembre, como todos os dias no desperta a dor. Quase consigo me despertar. Da dor. Ei! Peraí! Acho que consegui!
São cinco... ou quase isso. Ou talvez já tenha passado. Não sei. Não lembro. Aliás, não lembrarei de nada, até quando estiver bem acordado ou até que alguém venha me acordar e me contar do inferno de cada dia. Inferno de TODO dia. Todo o dia.
Contar o quanto fiz e bebi a noite passada. (ou terá sido a outra?)
Não lembro.
Eu tento, juro que tento.