sábado, 17 de julho de 2010

O Difícil Ato de Amar Hard Candy




Esse foi mais um texto saído no site do Minsane: http://www.minsane.com.br

e, no link:
http://www.minsane.com.br/fanclub/colunabyinsanos06.html

Confiram!

O Difícil Ato de Amar hard candy!

Por Jeam Camilo


Muitos de vocês devem se lembrar do chiclete Azedinho-Doce, muito popular entre os anos 80 e início dos 90. Para quem inacreditavelmente não se lembra, ou não conhece, o tal chiclete parecia uma lâmina e, como o próprio nome já revelava, até chegar no doce, passávamos por um processo intenso e muito prazeroso do “azedo”.

Intenso, porque era realmente azedo, daqueles que “trincavam” os maxilares e arrepiavam a nuca... quantas disputas foram feitas para ver quem agüentava NÃO fazer caretas! E o vencedor levava mais dez de prêmio.

Prazeroso porque, passado o choque inicial, instantaneamente chegava-se ao docinho, mas daí perdia-se a graça, porque o legal era justamente a “trincada”, o susto, as caretas... a disputa sobre quem agüenta resistir sem fazer cara feia a um prazer que seria descoberto depois e, olha quanto paradoxo, era preciso chegar ao doce para perceber que o amargo, o azedo era o incrível!

Levando isso para a vida, temos provas sobre provas sem contestações, de que só crescemos e evoluímos após levarmos uma forte queda, um soco, uma perda, um adeus, um doce após o azedo, ou, a tal bonança pós-tempestade.

Quando foi anunciado o título do álbum de Madonna, o título que, de certa forma deve englobar o que o “produto” trará, muito se foi especulado a cerca do que se tratava: Timbaland? Justin? Pharrel Quem? As explicações: Hard Candy, ou, brasileiramente falando RAPADURA (que é doce, mas não é mole não!) queria dizer algo que era no sentido do ser “degustado”, que não era fácil, mas seria gostoso se fossemos até o fim. Aí começou as tribulações.

Não, realmente não é fácil gostar, nem amar Hard Candy se analisarmos que essa mulher, essa coisa monumental (Madonna já passou de denominações...ela simplesmente é Madonna!), tem em seu repertório, clássicos absolutos como Like a Virgin, Like a Prayer, Ray of Light e Confessions on a Dancefloor. Porém, analisando melhor, abrindo esse doce e, calmamente degustando-o, assim, como deve ser, talvez, como Madonna tenha idealizado: um disco para a posteridade, aí sim podemos agora, após alguns anos, refletir sobre. Não, não é um texto datado, mas sim, de alguém que começa a refletir somente agora sobre se é possível amar Hard Candy.

Madonna, entre Candy Shop e 4 Minutes, canta para aproveitarem. Invadam a pista de dança, não percam tempo nem ritmo. A gente não tem muito tempo. Tic-tac, o tempo está passando. 4 minutos? Já foi. Madonna solta: “às vezes eu acho que o que eu preciso é uma intervenção sua.” De quem? Dela mesma? Dos céus, já que a luta contra seus demônios permeia o disco? “A estrada para o inferno está pavimentada com boas intenções” segue. Mais início de carreira impossível. Ela tendo que ser ela mesma e mais ainda para sobreviver numa cidade e, num meio que a engoliria num segundo. Madonna se faz Madonna por ela mesma.

Em Give It 2 Me, ela continua sua busca: “Ninguém me mostrará como... Quando as luzes se apagam, e não sobrou NINGUÉM, posso continuar... continuar... continuar... somente me dê uma chance e eu a agarrarei...”. E, hoje, não existem adjetivos e/ou denominações para Ela!

Em Heartbeat, um adendo: muitos à época disseram que ela não estava criando nada de novo e sim, repetindo uma fórmula já em franco desgaste: o hip-hop à la Timbaland, mas, como se já antevisse isso tudo, ela canta calma e deliciosamente (começando a degustar melhor o doce...): “Pode parecer velho para você, mas para mim é novo!”

E provoca carinhosamente: Veja minha bunda e desça igual... Veja minha bunda e desça igual... VAMOS! Sim, o som poderia ser igual, mas ninguém faz esses docinhos com as receitas DELA. Definitivamente... não era igual à nada!
Mas ela deixa passar do ponto e precisa refazer a receita. Miles Away mostra alguém que olha um relacionamento com olhos de quem precisa rever coisas, adicionar outras e ter que, dolorosamente admitir que nem sempre se dá a liga certa. Uma das melhores e mais pessoais músicas dela. A receita ganhou fermento. E o resultado deixa o prato vazio, e a gente lambendo os dedos...

E emenda na magnífica She´s Not Me: “Ela pode te fazer o café da manhã, fazer amor durante o banho, a sensação do momento, mas ela não tem o que era nosso... Ela não sou eu”. Um recado? Madonna mostra que sempre serão os outros quem mais perdem não a valorizando como merece.

Aí, o bolo fica solado, o caldo endurece e as coisas desandam na fábrica de doces porque, amarga e inacreditavelmente precisamos provar um docinho não lá muito ok: Incredible quebra-queixo e clima, e a gente precisa escovar os dentinhos antes de aparecer formiga. Mas parece ser proposital, como uma das melhores letras do disco ganhou uma roupagem tão chatinha. Ela reflete: E tudo na natureza dá errado, parece que ninguém está escutando, e algo está faltando... (...) tenho que entender como!”. O maior Hard Candy do disco talvez seja a tal faixa 7. Admira-se a letra, mas que esforço para ao menos gostar um bom-bocado da música!

E os demônios voltam a atacar Madonna. Se, no início ela tinha 4 minutos para salvar o mundo, agora ela clama para ela mesma em Beat Goes On (Levante-se pequena menina, é tempo já!) de que não há muito a se perder, e, ficar esperando como uma tola por tudo, não fará você ir muito longe. Ande pela fábrica, ou espere o chocolate premiado.

Dance 2night, soa clássica, bem fim de noite, quando estamos cansados, mas temos que continuar...ainda há festa, mas, novamente, tic-tac, o tempo ta acabando, e não existe tempo há perder... e pior... começa a entrega ao amor, ao deleite, o doce mostra seu recheio... a bala parte-se... hora de experimentar algo mais... caliente!

Aprendemos uma lição diferente, espanhola, em qualquer sentido!!!, mas um aviso novamente: TIC-TAC, preciso me apaixonar... mas nunca fico satisfeita... te amo, mas, até quando mesmo? Bala acabando...

E o azedinho-doce que quase mela agora acaba... doce amargor... a própria letra de “Devil Wouldn´t Recognize You” já diz tudo, e é tão pessoal, a mim pelo menos... quem somos nós para criticar? Alguns querem nos deixar pra baixo e cada vez mais baixo, mas é hora de perceber que acabou a graça. A loja deixa de ser colorida e começa a fechar. Hora de lidar com questões muito mais profundas. Feche a porta da loja. Mas não há como se esconder de si mesmo. Ao menos, ela diz que consegue reconhecê-lo... que bom.

Fábrica fechada, reunião entre nós e nós mesmos: quem é o Mestre? Quem é o Escravo? A difícil definição... quem a gente guia, ou será que somos guiados? “Ecos distantes de outras épocas (...) Você está brincando por ai, é como se fosse uma repetição”. Muito forte, mas diria mais que repetição: Em Hard Candy, Madonna está o tempo todo revendo seus conceitos, sua carreira, sua história... olhando sua trajetória, jogando para se divertir com questões sérias que, não soam como divertidas e sim alarmantes.

O que mais pesa no disco, é o fato de tudo parecer brilhante e saboroso, mas ao abrirmos a bala, tudo é escuro e complicado e urgente e perigoso. O próprio encarte com Madonna encarnando M-Dolla, uma lutadora de boxe(?) que tem ao fundo, temas coloridíssimos de doces, candy galore!!!, contrastando com o lado negro da embalagem na parte de dentro. A embalagem bonitinha ao fundo. A alma indômita que precisa lutar à frente. O paradoxo entre não permanecer e se recusar permanentemente, por mais que pareça o contrário, ser doce e grudenta... é preciso lutar...

As letras que beiram ao desespero, tic-tac, tempo esgotando... tempo correndo... o amor que se vai, a necessidade de se enfrentar mais um demônio (“VOCÊ tem demônios, logo, ninguém pode culpá-lo”), e, mais uma vez dizer que ela é Madonna, para o bem ou para o mal.

Confissões continuam...dessa vez embalada num papel charmoso, mas nunca menos fácil. Degustar esse doce ainda não me é fácil, mas confesso cada vez mais ouvi-lo para tentar entender o real significado de um disco com revelações complexas e até mesmo meio dark, em músicas que soam apenas gostosinhas... nenhum clássico dessa vez... mas como não se arrepiar quando chega “Devil...”?, Ou as batidas incríveis de Beat Goes On, os refrões grudentos de Give It 2Me e 4 Minutes, ou a tristeza de um coração partido revelada de Miles Away?

Abram o doce e degustem. Ainda não consigo amar Hard Candy. Mas, no momento, é o que mais tem me feito pensar.

Voices start to ring in your head… TELL ME, what do they say?

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