sexta-feira, 16 de julho de 2010

Prólogo - Por Thais Miassi

Prólogo

Para Emily, o tempo não passava. Tudo seguia sempre a mesma rotina: acordava sempre às 6 horas, 6 h e 15 terminava de pentear seus longos cabelos negros, 6h e 20 desdobrava a camisa branca e a abotoava sobre seu corpo magro e extremamente pálido e vestia sua velha calça preta de oxford. Seu café da manhã resumia-se a uma pequena torrada que já perdera a crocância, uma xícara de café sem açúcar e após, uma longa tragada no primeiro cigarro do dia.

Pontualmente às 6h55, pegava o metrô da Linha Azul, próximo de sua residência. Apesar de não considerar sua casa como um lar doce lar, Emily se apaixonara pela aquela pequena kitinete no momento em que a viu.

- Pode-se perceber que, apesar das rachaduras e mofos pela parede do quarto, esse imóvel é ótimo para pessoas sozinhas – disse o corretor – com esse visual tudo indica que você viverá para sempre nessa imundice ­– a vista é privilegiada, tendo um lindo parque aos fundos, pela janela você verá crianças, jovens e velhos passeando entre as árvores – nossa, essa garota deveria tomar um sol nesse belo parque.

Emily nada respondia. Apenas olhava fixamente o chão encardido e algumas pequenas manchas escuras ao redor do lugar em que julgara caber uma cama de casal. Seus dedos finos deslizavam sobre uma pequena cômoda que o morador anterior largara.

- Como estamos em um bairro tranqüilo e bem próximo do centro da cidade, o valor, posso dizer, está ótimo. Se você pagar à vista, sairá por 30.000 reais e a documentação será por conta do antigo proprietário – continuou o corretor.

Emily já havia imaginado o quanto custaria a sua nova vida, mas ao invés de expressar a sua vontade imediata de fechar o negócio, simplesmente parou para observar as gotículas de suor que emanavam sem parar do rosto gordo do corretor, que não aparentava mais de 50 anos.
- Amanhã, levo minha documentação e fecharemos o contrato – afirmou a garota.

Enquanto o metrô deslizava pela estação, Emily pensou nas longas pilhas de papéis que a esperavam no trabalho. Eram documentos para serem organizados a pedido de sua chefe, Sra. Ramón.

Fazia mais de 5 anos que Emily trabalhava no Escritório Liberti & Ramón, especializado em investigação. Não gostava de sua função, mas a Sra. Ramón a contratou com a promessa de que logo subiria de cargo, mas isso não foi cumprido ao longo desses anos.

- EEEEEmily – gritava a chefe – cadê as documentações referente ao Caso do Menino Jonathan? – como essa garota é burra – falei para você deixá-las na minha mesa ontem e você não pode nem fazer isso?

- Desculpa, senhora. Mas não é minha culpa – apressou-se Emily.

- Sempre a mesma ladainha. Emily, é difícil de você entender o que falo? Por acaso, falamos em línguas diferentes?

- Não, senhora. Por favor, deixa eu lhe explicar: o seu marido esteve aqui quase na hora de fecharmos o escritório. Queria conversar contigo, mas a senhora já havia saído. Como ele queria falar com você imediatamente, ele foi até a sua sala para usar o telefone.

- E?

- Perguntou sobre o relatório de Jonathan e eu entreguei a ele. Ficou curioso com toda a repercussão que teve na mídia. E me prometeu que deixaria em cima de sua mesa assim que saísse da sala, depois de falar com você pelo telefone.

- Mas, não está aqui. Emily, Emily... você deveria ter conferido antes de se mandar embora. Da próxima vez, não quero mais esse tipo de erro. Afinal, você é paga muito bem para fazer esses serviços que qualquer um faria.

Ao abrir a gaveta, a Sra. Ramón encontrou a documentação que desejava. E fez um gesto para que a garota sumisse de sua frente.

- Com o dinheiro que você me paga, mal dá para comprar comida e cigarro, sua vaca, pensou. - Desculpe mais uma vez, disse fechando a porta da sala da Sra. Ramón e encaminhando para sua velha escrivaninha.

Após organizar as pilhas de papéis, Emily pegou os jornais do dia e começou a procurar sobre notícias que fossem interessantes para a sua chefe. Sem se espantar, verificou que os três jornais locais falavam novamente sobre o menino Jonathan.

AONDE ESTARÁ O PEQUENO JONATHAN?

PAIS PODEM SER PRINCIPAIS SUSPEITOS, instigava um jornal.

JONATHAN E O TRÁFEGO DE ÓRGÃOS.

A PEDOFILIA TERIA FEITO MAIS UMA VÍTIMA?

Foram criadas diversas hipóteses sobre o desaparecimento de Jonathan, desde rapto, assassinato, pedofilia até vingança. Mas, nada era concreto. A polícia de São Paulo não tinha provas e nem sequer uma informação sobre o paradeiro do menino.

No dia do desaparecimento.... Continua...

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