segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um não sei mais o que dizer...






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É difícil justificar uma existência... pode-se dizer que viemos ao mundo para uma missão, para encontrar alguém, para ajudar outras, para fazer alguma diferença... Na realidade, estamos tão à mercê do próprio mundo, que nós mesmos nos contradizemos na busca pelo que achamos ser o certo e de repente nos deparamos com todos os fatores errados para rumar e buscar o contrário.
Não é fácil estar aqui, não é fácil entender aqui... rimos, choramos, sofremos, e essa falta absurda que sentimos de coisas, lugares e pessoas... essas minhas reticências que sempre querem dizer algo mas nunca tenho tempo, vontade, ânimo ou coragem para tentar pensar, explicar ou buscar seu real significado...
Tenho saudades... tantas saudades... um eterno nostálgico que não vive de nostalgia, porque é preciso pagar o aluguel no fim do mês, ou começo, dependendo da imobiliária... (balde cheio de realidade fria)
Eu tenho esse defeito... eu tenho... eu busco tanto tudo demais... eu sofro demais, eu amo demais, eu quero demais, eu espero demais, eu sinto demais... e, sendo isso não um estado mas um fato, ainda não consumado, passível de ser voluvelmente alterado (sim, volúvel demais também), então eu sofro e choro demais...
Essas saudades são um fato... e isso sim é consumado... eu, por toda a vida sempre me vi sozinho... não por falta de amigos, amores, companheiros e companhia... a família linda!!!, não, não é isso... é uma solidão de quem sabe a que veio e, infelizmente não pode levar todos consigo na bagagem... apenas na mala coração... na mala sentimentos, na mala lembranças, na mala o todo, na mala ser... mas só... tendo sempre que seguir em frente... adiante... e, olha o lado incrível da coisa, eu já começo algo sentindo saudades... meu grande amor, é meu amor que vivo e já sinto falta... minha família que vejo e sinto, eu mato as saudades já antevendo as que já estão por perto, antes mesmo das passadas serem desfeitas... meus melhores momentos, antes ainda de se concretizarem, já estão na lista do que eu mais sentirei saudades nos próximos passos... aquele aperto único de tentar viver sim, intensamente tudo, porque sei que passará e sim, deixará saudades... levarei comigo tudo e todos, aprendizado!, mas é impossível não sentir um nó na garganta toda vez que algo ímpar me ocorre... e o caminho lança-se aberto e pronto para ser desbravado...
Essa noite tive um sonho... na noite anterior sonhei com meu pai feliz me abraçando... (saudades), e ele estava feliz em conversar comigo... e eu estava muito feliz em abraçá-lo... (choro)... e essa noite, num período, num momento, num lugar apenas existente nos sonhos que, por sinal, eram os mesmos lugares visitados com meu pai no sonho revisitado, essa noite foi a vez de minha mãe me visitar... e foi algo leve, intenso e, pode ser, algo muito revelador... algo que fala de mim, algo que me expõe... algo que me deixa sereno, mas sim, como em todos os sentimentos, com saudades...
Ela veio linda, mais magra que o habitual, sorrindo... sorrindo muito! (plena falta, rasgada com dor... ah, essas saudades!), ela me abraça tão feliz como meu pai na outra noite... e caminhamos numa estrada de terra, com casinhas simples do lado esquerdo (coração... coisas simples, pequenas, e ricas em significados... a falta)... do lado direito, uma estrada... reta, sumindo numa subida... um ou dois carros... caminhões, ônibus... a gente abraçado!, sorrindo... uma felicidade em rever-nos... nem sei mais quem foi visitar quem! Meu lado direito... mão que escrevo... mão que direciona meus pensamentos, mão que aponta meus caminhos... meu lado certo, junto ao meu lado imenso de sentimentos...
Pensei na hora, o que a estrada significava para mim... porque, por Deus, tamanho fascínio por uma pista de piche, concreto... ou das linhas férreas de um trem... ou a tudo que remete idas...voltas, caminhos... o que nisso me fascina tanto? Talvez não a estrada, mas a busca... a oportunidade, o caminho a ser preenchido e descoberto... a busca... a busca... a missão talvez? Porque esse fascínio? Se já sei que terei saudades, que deixarei coisas e pessoas e histórias e só poderei levar o possível cabível dentro de coração e memórias? (meus sentimentos)...
... e durou isso... abraçados e sorrindo... uma saudade já sentida e agora, já sentindo a que vinha sem antes mesmo de ter ido embora ou acordar, meus olhos brilham ao olhar a estrada, e voltar o olhar para minha mãe sorrindo... e meu peito apertado, mas ansioso... e eu sorrindo.... e minha mãe do meu lado direito assim como meu pai estava ao me abraçar e caminhar lado a lado comigo (proteção)... lado direito... lado que eu escrevo... pai e mãe no lado da estrada... lado que me guia... (o caminho?)...
Tentei tanto entender o que me move... talvez um medo de permanecer e arraigar... ter raízes não é mesmo?, parece ser o certo da coisa... mas não para mim... que sentido meu, move? Que sentido ME move? Sei lá... só sei que ao me ver com olhos apontados para esse horizonte, essa estrada, minha mãe, com olhar meio triste e curioso me fala...
- Ah... não acredito que você vai voltar para a estrada de novo?
Jamais com mágoa! Era algo do tipo: se aquiete, menino!, mas ela sabe que não... ela entendeu e me entende... talvez ela tenha dito isso porque ambos precisávamos voltar aos nossos mundos... às nossas estradas novamente... mas no fundo... no fundo, ela SABE o que me espera... e eu sei o que está lá... não no fim dela, mas ao menos no caminho... e eu vou chegar... (lágrimas)... e ela me abraça sempre sorrindo... com esse ar de sempre faltar algo... um tempo maior... uma proximidade maior... um contato maior... um momento maior... as reticências... a estrada que se apresenta...
Ambos sempre ensinaram a mim e a minha irmã, a fazer o que tínhamos vontade... a ir atrás do que realmente queremos....a sermos o que somos e a aprendermos mais e mais... a busca! (o sentido das coisas)
E assim, sem despedidas, sempre sorrindo, abraçando, aquele contato... essa mensagem, esse encontro... me vejo feliz... e sim, com o eterno nó na garganta, com as saudades antecipadas de algo que ainda virá, respondo para minha mãe com o mesmo sorriso de sempre, aberto e cálido e com o olhar brilhante apenas... essa é minha resposta e ela entende... e eu entendo... como segurar? Isso sou eu...
Levando-se em conta o que me ensinaram... levando-se em conta a estrada e as saudades na despedida não-concretizada (que bom!), levando-se em conta, ambos me protegendo do lado direito que aponta a estrada, que aponta o horizonte, que aponta a busca, que me direciona... como renegar a essa forma de aceitar o que eu sou?
O que eu sou?
... estrada ...
... reticências ...
... já sentindo uma imensa saudade ...

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