sábado, 7 de agosto de 2010

Oh Father...

encontrei essa semana, por acaso, esse texto... já faz algum tempo... apropriado...


Oi pai...
Escrevo agora pra você...com cenas dos momentos que não me saem da cabeça hoje....
Estou profundamente introspectivo, melancólico........ Ontem, sonhei com você....foi tão louco....... sonhei que estávamos conversando no quintal da casa da minha irmã...a casa em que ela morava com meu cunhado antes dessa que eles estão... e você estava, como sempre! Com um copo de cerveja na mão.... e estava todo feliz, falando pra mim que estava tirando carta para motorista...e falando de planos, de quando pegasse a carta, pra onde iríamos sabe... e eu, lembro que no sonho...pensava(assim como eu pensava quando estávamos juntos...) pensava desesperadamente em coisas para conversar com ele para não ficarmos em silêncio....e eu estava conseguindo sabe! E eu estava tão feliz porque eu estava conseguindo conversar com o meu pai sem fazer forças por não ter um assunto....e eu fiquei muito feliz......e ele parecia que também estava....... mas daí eu acordei.......
Eu acordei......
E foi tão horrível e doloroso...sempre é aliás.....
O pior de tudo é forçar estar bem...já marquei dois compromissos pra hoje.... pra tentar me distrair...vai ser bom.....espero que seja..........
Sabe o que me mata? É relembrar desses momentos e ver que vivíamos tão bem..estávamos com tantos planos.....as coisas estavam melhorando..... tudo estava indo tão bem..... o clima...aquele calor que fazia entre outubro e janeiro... meu sobrinho que começava a querer a andar e balbuciando aquelas coisas que a gente só entendia quando nós éramos crianças..... e uma foto da tarde do aniversário do meu sobrinho.....minha mãe, meu pai e ele no colo........ tão radiantes... sabe aquelas fotos em que todos mostram seus melhores sorrisos, não pra que a foto saia linda, mas porque simplesmente estão felizes....estão felizes e só.......
E me dói tanto..... uma dor que destrói porque me dá um sentimento de perda bem maior do que a presença física do meu pai ou do meu vô.... é um
sentimento de perda...de uma vida sabe....dos momentos, dos cheiros, dos toques e abraços....e beijos...... e o som das vozes deles, até das músicas e programas de tv.... tudo volta...tudo remete a tempos tão lindos..e que agora
são lindos na minha memória e por isso não se perdem...... mas não consigo as vezes.... e isso me entristece....os momentos........aquele calor...aquela época entre outubro e janeiro...... meu sobrinho...a tarde do aniversário dele..... e o telefonema as 5 da manhã dum domingo aí.......há uns dois anos....
lembro que na hora, nem tive muito tempo de pensar em PERDA .... foi o choque da notícia.......até que o inimaginável tornou-se concreto....... e como sempre, por sermos fortes, por ter que ser forte, o mundo se abre.....mas não se amplia..ele se abre para engolir a gente porque perdemos o chão..... porque não há mais uma base, algo sólido para se firmar, um centro...tudo é nada e até nos acostumarmos com isso, leva um tempo que a gente nem sabe se o tempo inteiro irá suprir..... passamos....... ficamos..... estamos perdidos..... e voltar a situação pra si...e tentar revirar essas coisas é a minha tarefa a ser realizada desde aquele domingo.....que nem tava tão calor assim...... Calor fazia entre outubro e janeiro...mas não naquele.... não naquele dia.... em que eu não conseguia distinguir se o frio vinha do tempo, ou da minha alma que já não tinha mais aquele forte calor que vinha do coração..... o tempo agora estava mudando do mesmo jeito que estava mudando na época em que tempo e memória se fixou para sempre num único, inesquecível e perturbador momento.... 5 da manhã.....
- Nós perdemos seu pai.......
...
E até onde minha imaginação possa me levar....vou guardar aquilo que sempre imaginei e quis.....e aconteceu....... a gente soltando pipa.... ou correndo pra ele não pegar a gente pra fazer cosquinhas... e até dos puxões de orelha, que nem eram puxões mas só palavras de repreensão...... dos nossos grandes almoços de domingo, ou de você, num sonho bom, com um copo de cerveja na mão todo feliz falando da carta que estava tirando, ou de um dia que, de tão simples e comum eu não me lembro...e talvez tenha sido o melhor de todos justamente porque estávamos juntos.... e felizes....

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