quinta-feira, 18 de junho de 2009

1+1=1

Sentaram-se. Estavam frente a frente como estiveram há 8 anos. Pouco tempo... tempo demais. Mas, dessa vez, com caixas espalhadas pela casa vazia, precisavam decidir quem levava o que... com quem ficariam os discos e cd´s (ela, moderna, descolada... ele, nostálgico... até melancólico); os livros (ela, Balzac... ele, TUDO que estivesse ao alcance nos momentos de distração – j[a sabia de antemão que as Ágathas Christies ficariam com ele), e todos os objetos comprados nas feirinhas hippies, brechós... tantas coisas... meu violão... sua escova... nosso lar!
Estavam serenos, olhando-se... ela, com sorriso tão iluminador... ele, tão bobo ante beleza daquela rosto simples... tão indiferente à dor da despedida... (na cabeça dos amantes desamantes, despedidas significavam o fim, The End MESMO! NO WAY!... e com muitos hard feelings...) Mas ali... duas criaturas que, meses antes acordaram e descobriram que não mais suportavam o fato de ele ligar o rádio e esquecê-lo ligado no banheiro toda vez que ia fazer barba ou se arrumar pro serviço... o fato de ela ser tão formal na pizza em casa toda quinta (depois do chopp na happy hour), simples assim! E nos meses subseqüentes, os defeitos tão amados ficaram degradantes, “E a vida é assim mesmo”. Sem explicação ou tudo explicado, e nada entendido... as comédias da vida privada.
Tá, separar tudo foi um baque... cada coisa levava a uma história, uma lembrança... e quem foi que disse que seria fácil? Oito anos, são oito anos... pouco tempo... ou tempo demais. Mas agora, frente a frente, não conseguiam, cada um a seu modo, acreditar que estavam cortando aquele laço...
Pensaram numa música do Roberto Carlos. Resolveram andar pela casa. Ela subiu pela escada e deu uma olhada nos quartos e quadros... ele ficou lá embaixo, no último degrau (último grau!), esperando ela voltar. Voltou. Foram ao quintal... ele observando... ela andando, estavam sendo práticos, e isso doía, mas a forma como estavam agindo... dava-se a impressão, de que um estava seduzindo o outro... como há oito anos... cada sorriso, gesto, olhar... sem ressentimentos, só a beleza... só há beleza!
Sentaram-se. Estavam frente a frente como estiveram há oito anos. Pouco tempo... tempo demais. Mas dessa vez, era a primeira vez depois de toda a tormenta. “eu escrevi uma carta prá você” (depois de 15 tentativas... 15, 1+5=6... seis é o número (ela também passou a odiar o fato de ele somar números, até formar O número)); - sim, eu li (37 mil vezes, dormi com a carta após chorar muito enquanto lia! 37! 3+7=10; 1+0=1, então 1 é O número, DROGA!! Olha o que estou pensando!)
-Escrevi para você.
-Parecia mesmo.
A carta relata os longos e curtos tempos nesses exatos oito anos.
Choraram. Deram as mãos. Impossível acreditar que estavam se separando, chegando ao fim, the end definitivo, só porque ela queimava as torradas (distração era seu forte), ou porque ele dormia com o cigarro aceso (QUANDO fumava... – se quisesse se matar, que o fizesse sozinho... e ele não queria machucá-la!). Não! Não podiam acreditar.
Se olharam... sentaram-se frente a frente e já estavam imaginando que trabalho teriam para desfazer todas as caixas espalhadas pela casa.
Ela fez o café forte dele para os dois beberem... ele colocou o disco do Tim Maia... em maio, mês dos oito anos, para ouvirem enquanto bebiam o café forte feito por ela, do gosto dele, para ELES beberem...
-Seu aniversário esse ano foi dia 2 de março... nesse ano caiu numa segunda...
Brincam contando os anos... os dias e semanas... riem vendo que, em 2.013 o dia 2 de março vai cair numa sexta. Aí poderão comemorar à vontade, já que não trabalharão no sábado!
Riram como duas crianças felizes por estarem ali. Sentaram-se frente a frente, e se amaram pelos olhos...
... e cogitaram a hipótese muito pensada antes por ambos, cada qual em suas idéias, sentimentos, divagações, de viverem mais 8 anos juntos. Oito anos... noventa e seis meses... 96... 9+6=15... 1+5= 6... seis de novo é O número... NÓS tem TRÊS letras... 6+3=9. 9+1 cafezinho prá nós dois...=10. 1+0=1... 1 equivale a mais uma vida juntos.
Nem muito... nem pouco...
1 é O número.

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